Contradições

Você saiu do carro devagar, despreocupado. Como de costume, estava com aquele ar de "não tô nem ai pra nada" que eu não sei se amo ou se odeio. Eu queria que você estivesse perto o bastante pra sentir junto comigo meu corpo estremecer. Queria ter me aproximado o bastante para perguntar se aquela sensação de medo do que estava por vir, também inundou teus pensamentos. Eu quis parar de te encarar de longe e te encarar de perto, e quis mais ainda perguntar se esse teu sorriso no canto da boca queria dizer que você topava ser mais um erro da minha vida. O melhor deles, talvez.

Você me encarava como se soubesse tudo que eu estava pensando. Eu só não sabia se você concordava ou não. Eu queria ter dito que o Jered Leto estampado na tua camisa também era meu ator preferido. Eu queria não ter me contido ao ver o adesivo "fora temer" que enfeitava seu carro e mostrava que nossos pensamentos ideológicos eram iguais. Eu queria ter te dito que o sinal perto na sua boca parecia muito com o do meu queixo. Eu quis que você parasse de me olhar com seu sorriso debochado e ao mesmo tempo senti que poderia viver por anos sem sair do lugar sentindo seu olhar sob mim.

Contradições. Elas eram o que você mais me causava. Medo de ir, certeza de que não queria ficar. Eu queria confronta-lo e conforta-lo ao mesmo tempo. Queria brigar e beijar, silenciar e gritar o quanto você insuportavelmente me acalmava.

Aquele não foi nosso primeiro contato e nem precisava ter sido. Cada encontro nosso trás consigo todos esses pensamentos, sempre iguais. Mesmo te conhecendo, a cada vez que te via, eu queria me apresentar, me reapresentar e te olhar como se fosse a primeira vez. Percebi então, que amor e ódio não são faces da mesma moeda, e sim uma moeda de única face. As pessoas que mais amamos, são as que mais nos irritam e aquelas com as quais mais nos importamos, às vezes são as que mais magoam.

Uma certeza que sempre tive era que não saberia lidar com o amor quando ele chegasse, e eu realmente não soube. Pelo menos não de imediato. Na verdade, percebi que era amor quando nada me impedia de ir e eu optei por ficar, quando você sem precisar criar nenhuma amarra me prendeu junto a ti e me mostrou que as tardes sem fazer absolutamente nada ao teu lado, eram as mais produtivas da minha vida. Acho que a gente sabe que é amor quando há contradição. Porque, se alguém um dia conseguir te confundir a ponto de fazer seus próprios sentimentos se contradizerem, é porque a tua vida já colocou essa pessoa como sendo tua única certeza. A gente sabe que é amor, quando cada encontro parece ser o primeiro.