Como manter-se viva em uma história que já morreu?

31/03/2017

Eu precisava trabalhar, mas ela precisava conversar. Eu não tenho nem vinte anos, mas ela já tem cinquenta.Eu não entendo quase nada de amor, mas ela sim. Deve ser por isso que mesmo em meio a tantas tarefas, eu resolvi sentar e ouvir o que a experiência queria me falar. Então, com um olhar vago ela me disse que já não vê mais o amor. Não bonito, do jeito que costumava a ser. Ela me contou que o seu amor virou rotina, trabalho e obrigação. Tudo aquilo que um dia já foi abençoado por Deus, hoje resume-se à uma traição. Sem sombra de perdão, Dona Maria já não vê mais o amor, só enxerga solidão. "Deixa ele, Dona Maria" era o único conselho que minha consciência ignorante conseguia pensar, mas eu entendia que era díficil. É díficil manter-se viva em uma história que já morreu, assim como é díficil render-se a cegueira causada pela desilusão. E tem os filhos. Tem a história de 35 anos. Tem o passado. Um dia já teve até amor. Hoje, moram na mesma casa, ele, ela, os três filhos, os dois netos e a cachorrinha Melissa. Os beijos, a confiança,a alegria, e principalmente, o amor estão do lado de fora. Eles conseguem vê-la pela janela, mas ela não. Dona Maria não enxerga mais nada, pelo menos não nele. Como ela mesma disse "Não depois de tudo". 

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